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Julia, vila dancante, praia, trabalho…

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Fomos a um orfanato. Fica num belo, antigo  e coloridio casarao na praia. Muros verdes com desenhos que tinham dizeres assim:

 

 Fiquei impressionada com a beleza e qualidade da construcao, em comparacao com o padrao visto por mim ate entao. Paredes bem pintadas, algumas com figuras com temas infantis. Uma escada de madeira levava ao andar dos bebes. Ao entrarmos, criancas de 3, 4 anos correram sorrindo e dizendo “Tia! Tia!”. Abracavam-nos apertado nas pernas, nao desperdicando nenhum segundo da atencao que tanto ansiavam. Alguns ficaram embaixo para brincar com eles. Subi com Mariah, uma das voluntarias, para ver os bebes. Havia um corredor com alguns quartos grandes, com bercos. Fui ate uma sala, tambem grande, com varias mesinhas e uma cozinha ao fundo. Fui apenas para conhecer, mas imediatamente um bebe me foi entregue para alimentar. Peguei a papinha, o bebe embrulhadinho num cobertor e comecei. Acho que a calca dele estava preenchida, se e que me entendem. A questao e, havia um cheio com o qual nao sei lidar. Minha quierida irma sabe disso. Nao e frescura, e biologico. Pensava: controle-se, Isabella. Comecei a colocar a colherzinha de plastico na boca daquela crianca, pensando que eu era tudo o que ela tiha naquele momento e que precisava da comida. Quase que como intervencao divina, parei de sentir o cheiro e so o momento recebia atencao. Ao terminar, levei-o ate a janela e vimos o mar por alguns minutos. Coloquei-o de volta no berco, era hora de ir.
Depois dali fomos ajudar numa aula de ingles. Caca um ficou responsavel por dois alunos. Falamos sobre escola, tempo livre, comida, musica (um deles disse que gosta de Restart e Luan Santana; nem tudo sao flores) Mocambique, Brasil, relacionamentos (first kiss, haha) e outras coisas. Foi bem divertido.
 No outro dia voltamos ao orfanato. Descobri que vamos la todos os dias. Fomos recebidos da mesma forma calorosa. Fui ao quarto e peguei um bebe bem pequenininho. So depois descobri que era uma menina chamada Julia. Tao pequenina que eu tinha medo de segurar. Comecei a lhe dar comida, mas era dificil pois nao abria a boca. Fazia um biquinho e sugava. Era tudo o que conseguia, enquanto olhava pra mim com aqueles grandes olhos negros. Claro, tinha apenas 9 meses. Queria, na verdade, leite. Queria se alimentar no corpo da mae. Infelizmente, nao podia, tiha que se fortalecer com aquela papinha. Ela nao tem culpa. E tambem nao tinha culpa da minha falta de jeito. Aos poucos fomos nos entendendo melhor. Naqueles minutos que passei com ela pensei em varias coisas. Orfanatos existem em qualquer lugar. Pensei em quantas criancas crescem sem o apoio material e emocional de uma familia. Pensei que algumas nem em orfanatos estao. Apesar das poucas mulheres que trabalham e de outras dificuldades, ai pelo menos havia comida, roupas, brinquedos, seguranca. Pensei, principalmente, nela. O que sera da Julia daqui ha alguns anos? Ela sera? Muitos dos bebes e criancas desse orfanato sao HIV positivo, nunca se sabe… No final das contas consegui administrar o processo alimenticio e a danadinha comeu quase toda a tigela. Parti.
Pela tarde fomos a uma vila construir bancos de madeira. Cheguei e me encantei imediatamente com uma cena: embaixo de uma arvore, mulheres com seus cadernos no colo estavam sentadas no chao , na frente de um quadro negro. Duas classes, uma do lado da outra, portugues e matematica. Olhavam atentas para o quadro e registravam em seus cadernos. Do lado esquerdo, repetiam em coro “5×5, 5×6, 5×7…”. Uma graca!
 
 Chamamos alguns meninos para ajudar a construir os bancos e fiquei impressionada com a habilidade.
 

 Comecou a chover fininho… Que delicia! E o trabalho nao parava. As estudantes foram para uma area coberta. As criancas continuavam brincando na chuva com a Meredith, uma das voluntarias. Fiz algumas brincadeiras para tirar foto e as criancas adoraram. Cameras fotograficas realmente despertam toda sua curiosidade.

Na hora de ir embora, comecaram a cantar uma musica local bem alto, batendo palmas. Dancaram e dancamos junto. Um dos momentos mais marcantes ate agora.

 Quinta almocamos na praia. Tiramos muitas fotos e foi uma delicia.
 

Depois da praia fomos para uma vila ensinar a costurar mochilas. Minha aprendiz foi extremamente atenta e cuidadosa. De tempos em tempos paravamos para que amamentasse seus pequenos gemeos, ou para que prendesse um ou outro nas costas de seus filhos mais velhos. Muitas, mas muitas criancas mesmo carregam bebes nas costas. Alem disso, a atencao que dao para os irmaos e impressionante. Realmente se preocupam com eles.



Brincamos tanto com as criancas.. Foi, provavelmente, mais divertido que na vila dancante. Levei uma corda para pularem, achando que seria novidade. Quao grande foi a minha surpresa ao ver que eles tem toda uma cultura de pular corda. Bonito de ver. Fiz varios videos, de quase todas essas coisas que conto. Mas a internet aqui e lenta e oscilante, nao da para fazer o upload. Tambem dancamos muito, brincamos de correr, entre outras coisas.

  Esses dias tao produtivos me fazem pensar quanto tempo eu ja perdi na vida.

Africa, aqui estou!

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“Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo…
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura…”

Fernando Pessoa

Resolvi criar esse blog para compartilhar as coisas que vejo, sinto, ouco… (Nao, nao tenho cedilha nem acentos nesse computador). Assim, comeco por essa experiencia maravilhosa que se inicia, em Mocambique.

Apos muitos problemas e horas de viagem, cheguei. Beira e linda vista la do ceu. Cheguei e meus companheiros de viagem estavam me esperando do aeroporto. Nao tenho palavras para expressar a alegria incalculavel que senti ao ver minhas duas malas deitadinhas na esteira, esperando pelo resgate. Fiquei dias pensando em taticas para que chegassem no dia certo e com todo o material que consegui, com ajuda de queridos amigos. 

A preocupacao foi porque aqui e comum as malas chegarem com dias de atraso, por vezes violadas. Mas tudo deu certo. O grupo almocou no aeroporto. Enquanto fui no andar debaixo tirar dinheiro no caixa, vi dois garotinhos roubarem um pote de balas de uma das lojas. Assim comecou. Chegamos na casa em que estamos instalados e deixei as coisas. Fomos a pe para um mercado aqui perto. Andamos por ruelas, sempre de terra. Fomos entrando, entrando… Atravessamos uma linha de trem tomada por arbustos e la uma cena curiosa: um garotinho de uns 4 anos com as calcas abaixadas, fazendo xixi. Olhou para nos, subiu as calcas e saiu correndo, seguindo a linha. Chegamos no mercado e era absurdamente diferente de tudo que ja vi na vida. Era como um bairro fechado, uma vila, com casas muito pobres, barracas e lonas estendidas no chao com mercadorias. Um grande numero de criancas, muitas vezes as maiores sendo as responsaveis pelo comercio. Vendia de tudo: roupas, calcados, artigos de higiene, bebidas, frutas, legumes, entre outros. Muitas capulanas, tecidos coloridos que as mulheres enrolam e prendem na cintura, usando como saias. As pessoas sao bem pobres, usam roupas muito simples, por vezes rasgadas e sujas, especialmente as criancas. Mas o que mais me chamou atencao foi o tipo de atencao que nos davam. Nao havia uma pessoa que nao olhasse quando passavamos. Era um olhar diferente, que nao sei explicar. Mulheres sentadas na porta sorriam e diziam “Boa tarde!”, num portugues incomum aos meus ouvidos. Olhavam como se fossemos de outro planeta, como salvadores ou sei la. So sei que nao me senti confortavel de nenhuma forma. Quando acenavamos para as criancas, abriam um grande sorriso e acenavam de volta, como se tivessem sido agraciadas com algum premio. As vezes pessoas se aproximavam so para nos olhar. Nao gostei daquilo, so queria ir embora dali ou simplesmente poder andar e observar sem ser percebida. Acho que o problema era estarmos em um grupo relativamente grande, de umas 10 pessoas. Nao quis tirar nenhuma foto la pois achei desrespeitoso.

Pela noite fomos jantar na casa de uma conhecida de um dos integrantes do grupo. Era uma familia de classe media. Uma mesa bem bonita e bem posta, uma comida deliciosa. Bacalhau, arroz com couve, arroz de coco, feijoada, salpicao de frango e legumes. Senti em Minas!

Domingo fomos para o Parque Gorongosa. A viagem de 4 horas passou rapido, havia muito o que ver pelas janelas. Muitas pessoas moram no meio do nada, em casas extremamente humildes, feitas de bambu e palha. Pequenas cabanas com varais na frente. Fiquei impressionada com a quantidade de andarilhos. De tempos em tempos apareciam pessoas que nao se podia imaginar de onde partiram e para onde iam, tamanha distancia entre provaveis moradias. Muitas mulheres carregando bebes enrolados em seus corpos em belos tecidos gastos. Criancas e jovens tambem carregavam. Vi varias mulheres carregando coisas na cabeca e bebes, ao mesmo tempo. Uma carregava uma enxada apoiada na cabeca com a mao direita e na mao esquerda trazia seu filho.

Chegamos em Gorongosa e ai vem a parte alegre. Como o tempo estava fechado, nao pudemos fazer o trajeto para ver o por-do-sol que queriamos. Assim, aqueles que quiseram – nao preciso dizer que isso incluia a minha pessoa – resolveram ir em um Safari. Nossos planos eram de ir apenas na segunda pela manha. Fomos e foi espetacular! Nunca imaginei fazer algo do tipo na vida. Era realmente incrivel. Animais passavam pertissimo de nos. Estavamos ansiando por algo muito especial, como leos ou elefantes. Mas so viamos animais pequenos, entretanto, nao menos graciosos. De repente, um dos meus amigos quase gritou “aliiiiiiiiiiiiiiiiii!!!!” (nao gritar e uma das regras fundamentais em um Safari), e….

Como podem ver, era realmente “ali”. Nao tem como expressar o quao divertido foi. Parecia um filme. Alem do mais, a companhia era incrivel, pessoas divertidissimas. Durou tres horas e terminamos ja a noite. So se via o que os farois iluminavam e um belo ceu escuro. Jantamos no restaurante do Parque e fomos dormir. Ha tempos nao dormia tao cedo, mas as 5:30 da manha estariamos de pe para outro Safari. Assim fizemos e foi da mesma forma maravilhoso. Vimos muitos animais bonitos. Mas a parte que mais me tocou foi quando chegamos em um grande espaco aberto, um campo enorme, gigante. Realmente senti-me na Africa. Era lindo e trazia uma paz muito grande. Todos estavamos muito felizes por estarmos la. Senti gratidao pela vida, de forma geral.

                                 

Depois mostro as fotos do Safari. Na verdade um dos meus amigos tirou fotos maravilhosas. Vou esperar ate ter as dele.

Hoje fomos a uma vila, realmente uma vilazinha. Foi impressionante. Era bem rustica, as criancas ficaram encantadas com nossa presenca la. Brincavamos com elas e ficavam muito felizes. Adoravam fotos e exigiam ve-las depois de tiradas. Certas, claro! Nao queremos expor a imagem de alguem sem ter certeza de que esta bom! Voces, facebookers, deviam aprender com isso antes de “tag” a todos sem autorizacao. Construimos bancos. Foi uma tarde extremamente divertida. Obviamente, as condicoes eram deprimentes. Nao e nem uma questao de condicoes, porque simplesmente nao ha nenhuma. Mas no lugar de do ou pena, so conseguia sentir amor por eles. Estavamos tento uma tarde tao agradavel ao lado deles. Eramos iguais, ali. Todos seres humanos. 

Conto mais depois, time is over. Agora estamos em casa. Um cartaz branco esta pendurado na beliche, um projetor numa cadeira de plastico esta na frente. Atras dele um notebook ligado a tres caixinhas de som e assistimos Rei Leao. Ate mais…