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O QUE APRENDI COM O SONORA

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O “Sonora – Ciclo Internacional de Compositoras” é um festival que está sendo realizado de forma colaborativa em mais de 20 cidades em 6 países diferentes. Surgiu do anseio de mostrar e incentivar a força da mulher compositora, espalhando suas criações regadas a sensibilidade a quem quiser ouvir. A ideia de criar um festival foi da Larissa Baq, em consequência do movimento Mulheres Criando iniciado por Deh Mussulini. A ideia inicial foi expandida devido ao trabalho de diversas compositoras em várias cidades do Brasil e do exterior. De todas as experiências que foram compartilhadas até agora, foi unânime a energia indescritível durante o evento.  Eu fiquei responsável pelas edições de Lisboa e Dublin – onde não foi diferente. Depois dessa vivência maravilhosa, não poderia deixar de compartilhar com vocês algumas coisas que aprendi e relembrei:

1) Se desafiar a algo novo e maior pode ser assustador no início, mas é mais que necessário.

2) Não deixe uma ideia morrer porque os recursos não estão na sua mão naquele momento. Pense sempre em formas alternativas de realizá-la. Sair do caminho tradicional é sempre uma boa opção.

3) Não deixe uma ideia morrer devido ao tempo que levará para acontecer. Ele vai passar de qualquer forma.

4) O poder da rede é absurdo. Nós, como sociedade, podemos realizar absolutamente o que quisermos. Basta tomar a decisão.

5) Muitas pessoas só vão querer se envolver depois do trabalho pronto. As que estão dispostas a construir com você devem ser valorizadas, cuidadas e guardadas no coração.

6) Pedir ajuda é um bálsamo. Não precisamos saber ou dar conta de tudo.

7) Sempre poderia ser melhor ou pior.

8) Celebre as conquistas, seja grato e use-as como combustível para buscar o que ainda falta. Apegar-se ao vazio é sabotar-se.

9) Adaptar-se e reajustar os planos é imprescindível para a saúde mental.

10) Existem habilidades escondidas em vários cantinhos, esquinas e ruelas em nós. Só as descobriremos se nos expusermos às situações que as farão florescer.

11) Errar é ótimo. O quanto antes, melhor. Há de se ter os olhos abertos, pra perceber logo.

12) Todos estão minimamente querendo acertar. Ninguém (ou quase ninguém) sai de casa pensando “hoje vou rachar a cabeça ao meio, prejudicar a vida da galera toda e ter o pior dia da minha vida”.

13) A música fala de alma para alma. Desconheço algo com poder conector semelhante.

14) A simplicidade é a mais bela das coisas.

15) O universo feminino é mágico.

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Agradeço a cada pessoa que colaborou para que esses dois eventos acontecessem. Sou também muito grata a todas as compositoras das outras cidades que se empenharam tanto para que esse sonho coletivo se tornasse realidade.

Para conhecer mais, ver as fotos, vídeos e notícias:

Sonora – Ciclo Internacional de Compositoras

Sonora – International Cycle of Female Songwriters

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SONORA – CICLO INTERNACIONAL DE COMPOSITORAS

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Isabella Bretz faz parte do time de compositoras à frente do SONORA – Ciclo Internacional de Compositoras.

O movimento surgiu a partir de uma hashtag criada pela cantautora belo-horizontina Deh Mussulini. Era uma forma de mostrar que as compositoras existem e que estão espalhadas por todo canto. No dia 1º de fevereiro deste ano o facebook se encheu de vídeos marcados com #mulherescriando. O movimento deu origem a um grupo de discussões e, posteriormente, a um festival: SONORA – Ciclo Internacional de Compositoras, que visa colocar em evidência a composição feminina.

O projeto busca romper com o círculo vicioso que coloca e reconhece a mulher apenas como intérprete (muitas vezes nem isso; basta observar que na história da música clássica só se ouve falar sobre homens, sendo que mulheres também compunham e ainda compõem). Busca-se estimular o fortalecimento no âmbito individual de cada compositora por meio da coletividade, num processo mútuo de criação e de divulgação de seus trabalhos através de shows totalmente autorais.

Todas as edições estão sendo produzidas por compositoras, de forma colaborativa e sem patrocínio. A falta de apoio financeiro não é um limite: em sua primeira edição já será realizado em 6 países e em mais de 20 cidades.

Isabella é a responsável pela produção do evento em Lisboa e Dublin.

Lisboa:

Local: Renovar a Mouraria

Dias 15 e 16 de julho a partir das 19h.

Dublin:

Local: Globe Bar (The Song Room)

Dia 20 de julho a partir de 20h.

Sr. Quirino

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Tarde de quinta-feira, clima agradável, cidade cheia. Cheguei com meu violão e entrei no Café da FNAC. O técnico do som não havia chegado ainda, então sentei pra esperar um pouco. Observei o movimento, vi as pessoas namorarem tablets e afins na seção ao lado. Metade das mesas estava ocupada; algumas com pessoas sozinhas, mexendo em seus computadores, outras com pessoas em reunião. Cheesecakes e tortas roubando a atenção no balcão. Olhava o relógio e o tempo não passava: chegara cedo demais.

Pouco tempo depois olhei para o lado e vi uma figura levemente conhecida. Um brevíssimo exercício mental e a resposta me veio: “Ah! É ele”. Já o tinha visto naquele mesmo lugar, algumas semanas antes, na apresentação do meu conterrâneo cantautor, César Lacerda. Não pude conter o sorriso. Aliás, foi uma gargalhada tímida e silenciosa – mas não falei nada. Esperei pra ver se era o que eu pensava que seria. Cinco da tarde, o Sr. estava em um grupo de umas cinco pessoas, conversando e rindo. Segurava algo nas mãos. Olhei, conferi de novo pra ver se era ele mesmo, mas a presença de sua pequenina esposa me trouxe a confirmação definitiva. Lembrei dela também. Marcaram dois lugares na primeira fila e voltaram para o cantinho perto da janela, onde estavam com os amigos. Eu olhava de lado pra ver o que estavam fazendo, curiosa pra saber se eu também entraria para sua lista preciosa. Não demorou muito. Quando chegou perto e me disse “oi”, eu já imaginei, pois o César compartilhou comigo sua experiência, anteriormente. E comigo foi mais ou menos assim:

– Olá, tudo bem? (disse ele)

– Tudo ótimo! E você?

– Tudo bem. Estava aqui do lado tentando tomar coragem para falar com você.

– Hahaha! Que bobagem! Pode dizer!

– Aquela senhora é a sua mãe, não é?

– É a minha mãe, sim!

– Imaginei… Então, eu sou um colecionador de autógrafos! O primeiro que eu peguei já faz mais de 50 anos.

– É mesmo??? Nossa, que legal!

– É.. E eu guardo tudo em pastas. Tenho a pasta do teatro, a pasta da TV, a pasta da música. Mas não misturo com o fado. Tenho uma pasta só de fadistas.

– É essa pasta que o Sr. está segurando?

– Ah, nããão… Minhas pastas são enormes! Não é essa não.

E aí vem a parte mais legal. Eis que chega em minhas mãos uma folha com meu nome escrito no topo. Abaixo, uma foto minha colada num papel cartão azul (tipo uma moldura), colocada logo abaixo do nome.

– Nossa, mas que chique! É a minha foto! E três vezes, ainda!

– É porque essa foi a única foto que eu consegui. Aí repeti três vezes pra ficar maior. Mas coloquei nesse cartão porque se eu achar outra mais legal posso trocar depois.

– Ah, sim..

– Você é brasileira, não é?

– Sim, eu sou brasileira! De Belo Horizonte!

– Está bem.. Não coloquei porque não sabia, mas depois vou colar uma bandeirinha do Brasil aqui no canto.

Quanto capricho! Que situação mais inusitada! Você sai de Belo Horizonte City pra cantar em Lisboa e o nobre português descobre sua existência e quer guardar sua marquinha em meio a tantos artistas. Como não se sentir honrado? Como não se sentir feliz pelos caminhos que a vida traz, muda, leva? Escrevi um recado e assinei. Enquanto eu escrevia ele disse “Mas esse é o maior autógrafo que eu ganhei em todos esses anos! Com certeza!”. Aí fiquei mais feliz, o meu já era especial. (:

Pedi pra tirar uma foto e ele disse que era a primeira vez que tirava foto com algum dos artistas com quem conversara. Depois de ver a foto ele falou que provavelmente era a melhor foto dele que tinha.

O show começou e lá estavam eles, na primeira fila. Alguns dos meus novos e queridos amigos também estiveram presentes e até me deram flores. Um pocket show na loja de entretenimento com gostinho de teatro cheio. Com certeza a grandeza de um momento está na sua qualidade, nos detalhes; não no tamanho ou duração.

Pensei na minha coleção de autógrafos, ou seja, minha coleção de momentos. Pensei nas pessoas que a vida já me deu de presente. Quantas figuras! Quantas pessoas queridas, quantas assinaturas especiais no meu coração, quantas bandeirinhas diferentes coladas no meu álbum imaginário, na realidade da minha vida. Agradeci por essas delicadezas que aparecem no meu caminho. Quero as assinaturas, as bandeiras, as fotos, os momentos.  Fiz votos secretos de preencher minhas pastas até suas capas estragarem de tão cheias.

A mulher mais feliz do mundo

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O apartamento era lindíssimo, amplo, pé direito muito alto. A mobília, antiga. Cadeiras, sofás, poltronas, cômodas, mesas, tudo cheio de detalhes e estampas bonitas. Chique. Fotos por todo lado, sempre de familiares. Muitas em preto e branco, afinal de contas são muitos anos de histórias para contar. Depois de alguns minutos ali dentro chegou à porta com cabelos brancos cuidadosamente penteados, maquiagem, roupas elegantes e uma bengala, do alto dos seus 96 anos. Noventa-e-seis-anos. Vinha com passos lentos, um pouco tremidos, mas confiantes. Trazia um sorriso e leveza no rosto.

Mostrou orgulhosamente o apartamento numa região central de Lisboa e cada porta-retrato que ali repousava.  Abriu as portas de vidro da sala de jantar e nos mostrou a varanda com cadeiras brancas, uma brisa deliciosa e vista espetacular para o Rio Tejo. “Era dos meus sogros”, disse após eu elogiar a beleza do lugar. Ficou sabendo que eu cantava e disse que queria me ouvir. Nos levou até uma saleta onde tinha um piano antigo e razoavelmente desafinado. Toquei uma das poucas músicas que eu sei inteiras (The Hill – Marketa Irglova) e ela gostou bastante. Disse que era pianista, mas que há anos não tocava nada. Insistimos muito para que ela tocasse para nós, obviamente. Sentou-se e começou. As mãos já fracas não respondiam com tanta facilidade, os dedos apenas esbarravam em teclas que deveriam ser apertadas, mas as notas soaram muito bem. Os erros faziam da cena ainda mais bonita. Parou, disse que não conseguiria. Falamos que estava ótimo, incentivamos e ela recomeçou. Mudou de canção, mas por mais que se esforçasse os dedos não acompanhavam a mente rápida e muito saudável. “É a osteoporose”. E assim foi por três vezes, até se levantar dali ao som das palmas e “bravo’s!”.

Voltamos para a sala de jantar enquanto ela cantarolava, onde nos sentamos e ela nos contou um pouco da sua vida. Nasceu na Ilha de São Miguel, nos Açores. Conheceu o marido em um baile no clube local. Mas não conseguiu dançar com ele ali, pois tinha 19 pretendentes para dar atenção e seus passos de dança. Posteriormente casaram-se e tiveram 3 filhos. Tocava piano, desenhava, pintava. A música sempre fez parte da sua vida desde criança. “A casa estava sempre cheia de músicos”, contou. Viajou o mundo com o marido, estiveram no Brasil várias vezes. “Morreu há oito anos, com 86. Era um homem extraordinário, eeeeeextraordinário. Éramos muito apaixonados, ele não ligava para outras mulheres”. Eu escutava aquilo tudo com muita admiração e mil coisas passavam pela minha cabeça. No meio da conversa olhou pra mim e disse que me achava bonita, que não sabia por que eu ainda não era casada. Vixe, se eu fosse explicar pra ela… Haha! Acho que a sua vida amorosa dá uma melhor conversa do que a minha.

“Eu já quero ir lá pra cima!”. Rebatemos a afirmação imediatamente, dizendo que ainda era uma mulher bonita e cheia de vida. “Eu já fui muito ativa, fazia de tudo. Agora não. Agora estou cansada. Já quero ir.”. Eu me assustei, mas no fundo não achei tão absurdo, compreendi. Não falava como vítima, não tinha tristeza. Sua fala e sua expressão eram recheadas de leveza e luz. Não sei o motivo, mas essa pessoa me afetou de alguma forma. Durante a conversa soltou a mais bonita das frases, o mais profundo desejo do ser humano: “eu fui a mulher mais feliz do mundo.”. Tenho certeza que o pretérito não significa que ela não seja mais assim. Quer dizer apenas que seus tempos áureos já se foram, provavelmente com o seu grande amor. Conversamos um pouco mais e nos despedimos. Disse que gostou muito da minha mãe e de mim e pediu que eu voltasse para cantar mais.

Pensei no quanto a vida é diferente para as pessoas. Eu sinceramente acho que a ela é uma combinação de sorte e escolhas. Sim, todos nós estamos muito cientes de que as escolhas são fundamentais, a alma do negócio. Mas convenhamos, a sorte tem lá o seu lugar ao sol. Com certeza essa senhora teve muitas dificuldades na vida, das quais eu não faço ideia. Mas nasceu e cresceu em uma ilha paradisíaca, segura, se apaixonou profundamente e foi correspondida, casou-se, viajou o mundo, viveu uma vida confortável e longos anos ao lado do seu amor. Senti uma alegria genuína por ela, um alívio, a sensação de que há gente muito bem nesse mundo e que elas podem nos inspirar. Pensei em histórias não tão felizes que eu conheço e nas que eu não conheço também. Fechei os olhos (mesmo com eles ainda abertos) e pedi por sabedoria nas minhas escolhas e uma porção generosa de sorte na mochila. Além, claro, de ter me sentido grata por ter conhecido a mulher mais feliz do mundo.

Foto do google, meramente ilustrativa.