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Uma história de alegria e gratidão

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Vamos imaginar um lugar. Assim, só imaginar. O céu azul clarinho, com algumas nuvens. O sol está lá, mas meio tímido. De vez em quando foge e aparece por cima uma manta cinza, fofinha. Eles brincam o tempo todo, saem e voltam, trocam de lugar. Raios de sol, chuvinha fina. As quatro estações em um dia só, assim fica interessante. As casas são majoritariamente brancas, com pinturas coloridas em torno das portas e janelas. Não há prédios. Muitas das ruas são contornadas por uma longa fileira de hortênsias. Hortênsias em toda parte! É tudo muito limpo e organizado. Há montanhas verdinhas e nas ruas que as sobem há túneis formados por árvores, mesas para pic-nic, parquinhos para as crianças. Quem quiser passar uma tarde agradável é só aparecer por lá. Se for pra namorar, então, magia garantida.

O que mais? Deixa eu pensar… Podemos dividir esse lugar em pequenas regiões. Em cada região, há um espaço no qual seus administradores trabalham. Lá também tem um auditório, um espaço cultural que a população pode utilizar para atividades de lazer, festas, música. Por falar em música, precisamos pensar em algo nesse sentido. Que tal uma filarmônica? Não, não… Uma filarmônica não, pois seria pouco. Uma filarmônica em cada região! Vai ser isso. Vários instrumentos, músicos de todas as idades. As crianças saem das escolas durante a tarde e passeiam na rua, em filas, grupos, umas até dançam sozinhas. Quem não dançava sozinho na infância? Uma pena perder esse belo hábito com a idade. Não há perigo nenhum nesse passeio, é um lugar seguro.

Pensei em um lugar para as pessoas usarem quando quiserem. Que seja público, bem cuidado, uma estrutura dessas que não dão pra ter em casa. Um lugar para festejar, que caiba muita gente! Gente dançando, cantando! Vai ser amplo, arejado e coberto de telhas, pra que haja proteção se o céu quiser desaguar um pouquinho na hora do “sim”. Porque é claro, penso ser um bom lugar pra casamentos também. Além disso, um jardim. Lindo, delicado. Um jardim público, aberto a quem quiser entrar. Ele não corre perigo porque as pessoas não ferem as flores, elas cuidam porque o espaço é delas.

Para trazer paz, o mar. Tranquilo, reconfortante, muito azul, por toda a parte. Pra diversificar, pedras. Pedras de todo jeito, de todos os tamanhos! Umas bem grandes, formando piscinas naturais. Outras bem pequeninas, como biscoitinhos. Pra ser um pouco mais bucólico, campos verdes, vacas, cabras. Mas preciso de algo grande, encantador, marcante. Alguma ideia? Não sei.

Um vulcão! É ambicioso, mas acho que fica bom. Pode ser um vulcão fora de atividade, pra não correr o risco de estragar tudo. Mas quero que seja uma experiência, não um lugar. Há uma abertura grande em cima, esverdeada. O espaço interno é grande, as “paredes” são manchadas, os tons de marrom e bege se combinam de forma perfeita. Uma música leve toca ao fundo. Tão bela e natural que parece vir da própria mente. Mas não, é tocada lá dentro, mesmo. Lá embaixo, um lago azul. Em sua superfície caem gotinhas d’água vindas do “teto”, “percussionando” as canções. Tic, tic, tic, tic…

Acho que poderíamos mandar alguém pra lá, um forasteiro para se encantar. Um arquiteto, pra admirar a cidade! Não… Um biólogo, pra se maravilhar com as belezas naturais! Também não. Pensando, pensando. Um cantor! Aliás, uma aprendiz de cantora! Vai combinar com os sentimentos que emanam dali. Pode haver um concerto com participação dos músicos locais, porque interculturalidade é uma coisa linda! E esses moços serão bem simpáticos e se esforçarão para aprender músicas novas. E vamos por dança também! Mas cantar depende da voz e das vias respiratórias, que são muito sensíveis e imprevisíveis. Vai que ela fica doente. É melhor escolher outra pessoa pra mandar. Pensando bem, dá pra ser a cantorinha mesmo. Ela vai ficar doente. E vai se preocupar. E no meio de tanto encanto vai ficar com medo de não conseguir, porque a responsabilidade é grande. Ela foi pra lá pra isso. Vai começar a piorar e mesmo com o maior dos esforços, a verdade é que não vai conseguir pensar positivo sempre. Vai ter vontade de chorar.

Mas vamos mandar essa mesmo, nesse lugar há pessoas espetaculares. E essas pessoas vão cuidar da tal menina. Vão passear com ela por essas ruas e praias e montanhas. Vão abraçá-la com seus cuidados. Vão enchê-la de palavras de encorajamento, faladas em sua língua mas sob um sotaque todo especial. Vão lhe contar as histórias das ruas, das festas, do povo. Vão cuidar da sua saúde e da sua confiança. Acho que podemos colocar a mãe dela lá também, para o processo ser mais fácil. E assim, tudo vai dar certo. Ela não vai melhorar 100%, mas há de cantar. E há de se apaixonar por aquele pedaço de terra no meio do oceano e por aquelas pessoas. E há de se lembrar de cada detalhe. Sempre. Será grata pelas surpresas da vida, pelos caminhos que tem cruzado. Pelo que os seus olhos têm visto, por ter suas palavras musicadas ouvidas tão longe. Vai voltar com sua mãe, irmã e cachorro.

Na confusão megalomaníaca dos seus pensamentos vai se lembrar de outras experiências fantásticas que já viveu. A menina será grata pelo coração cheio de gente, de línguas, de sotaques, de lembranças. Vai passar por muitas dificuldades – muitas mesmo -, vai ficar triste com situações, com pessoas e vai sentir esse mesmo coração machucado. Mas só num pedacinho. Ela vai ser pequena, mas vai ser cheia de amor. Muito, muito, muito amor. Sem fim.

E vai ter vontade de chorar de novo…

Porque é feliz.

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Um abraço carinhoso ao Ildeberto Rocha, Anabela Faria, a Câmara de Angra do Heroísmo, a todos da Rádio Voz dos Açores (Portugal), aos envolvidos no show e aos queridos açorianos que me fizeram companhia nesses dias. Estar na Ilha Terceira foi um presente na minha vida.

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